Vocês lembram da presidAntA Dilma Rousseff, a “mulher sapiens”, inventora do dilmês, língua na qual é possível estocar vento, dobrar uma meta sem saber qual é, aquela em que o Sol é inútil porque brilha durante o dia quando tudo está claro?
Pois é, num certo pronunciamento no Dia Internacional da Mulher, abafado na ocasião por um dos muitos panelaços, a mulher que saudou a mandioca comprometeu-se a não tocar nos “direitos sagrados dos trabalhadores”, ao mesmo tempo em que defendeu mudanças nas regras de acesso a benefícios trabalhistas. Trocando em miúdos, Dilma tentou explicar como pretendia tocar naquilo que ela própria considerava intocável.
Sim, intocável! Pois é exatamente este o significado da palavra sagrado. Segundo o dicionário Michaelis, “diz-se de uma coisa em que não se deve mexer ou tocar”. E tanto esse dicionário quanto o Houaiss definem sagrado como algo “que não se deve infringir, inviolável”.
Sagrado é o particípio passado do verbo sagrar, do latim sacrare, derivado de sacer, sacra, sacrum, “que não pode ser tocado, sem ser manchado ou sem manchar” (Dicionário Latino-Português, de Francisco Torrinha). Esse adjetivo remonta à raiz indo-europeia *sak‑, “santificar”, que, além de sacer, deu em latim sancire, “sancionar, santificar”, sanctus, “santo”, sacerdos, “sacerdote, aquele que torna sacro”, sacrificare, “sacrificar, tornar sacro, oferecer aos deuses”, e muitas outras palavras.
Na teogonia indo-europeia, essa raiz sempre caminhou junto com outra, *n̥-tag‑, “não tocado”, que nos legou íntegro, inteiro, intacto. Portanto, o que é sagrado, ou santo, deve permanecer íntegro, inteiro, e por isso não pode ser tocado. Diversas religiões, aliás, consideram o contato do corpo humano — especialmente das mãos — com objetos sagrados uma forma de conspurcação.
Nesse sentido, mexer nos direitos “sagrados” dos trabalhadores é uma contradição lógica e etimológica. Talvez apenas mais uma das tantas contradições daquele tão contraditório governo.
DIÁRIO DE UM LINGUISTA 
Os discursos da Dilma, já há muitos anos, têm desafiado a lógica. No entanto, esse em destaque não me pareceu digno do selo dilmês. Para mim, ao menos, trata-se somente de uma aparente contradição. Entendo que ao afirmar que os direitos dos trabalhadores são sagrados, e, portanto, de acordo com a brilhante explicação do texto, intocáveis, “imexíveis”, quis ela expressar que esses direitos não podem ser diminuídos. O que não exclui a possibilidade desses direitos serem maximizados, afinal, a legislação trabalhista brasileira (embora considerada uma das mais evoluídas do mundo) tem diversos pontos a ser melhorados. Nesse sentido, ao defender mudanças nas regras de acesso a benefícios trabalhistas, quis ela sustentar mudanças que ampliassem, que aprimorassem os direitos trabalhistas, por exemplo, abrangendo talvez outras categorias profissionais, liberação de parcela do FGTS abarcando outras hipóteses legais etc.
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E ainda tentou criar a palavra “mosquita”. Para ela, fêmea do mosquito.
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