Os loucos anos 60 e a geração Z

Há muito tempo se vem endeusando a geração de pessoas nascidas nos anos 40 e 50 do século passado e que, portanto, foram jovens ou adolescentes nos “loucos” anos 60. Essa geração, movida a sexo, drogas e rock’n’roll, ao amor livre, aos cabelos compridos, às calças jeans, aos tênis e camisetas, ao flower power, ao “paz e amor”, à cultura pop, à contracultura, à contestação do establishment e do sistema, à admiração pelo socialismo e por figuras como Che Guevara e que recomendava não confiar em ninguém com mais de 30 anos ao final envelheceu.

Sem dúvida, muitas conquistas foram feitas por esses jovens que, pela primeira vez, graças ao morticínio da Segunda Guerra Mundial, formaram a maioria da população. Desse modo, a indústria cultural e a indústria do consumismo, que eles tanto criticavam, logo passou a oferecer produtos dirigidos a eles. O rock e o pop abriram portas para uma renovação estética quando a música popular era pura estagnação (pense-se, por exemplo, na revolução provocada pelos Beatles, cujos frutos estamos colhendo até hoje). No entanto, essa revolução também abriu caminho para manifestações musicais de mau gosto e para muito lixo cultural, como o brega, filho da Jovem Guarda e neto do rock’n’roll. As canções de protesto de Bob Dylan e Joan Baez criaram as condições para que atualmente MCs patrocinados por criminosos cantem funks de crítica à polícia e de apologia às drogas. O rock dançante dos anos 50 deu lugar ao psicodélico dos anos 60, ao progressivo dos 70 para enfim desaguar na pauleira e no punk barulhento dos anos 80.

A calça jeans, usada para democratizar e “descaretizar” o vestuário, virou o uniforme que padroniza a todos, como ocorria na China comunista até a década de 1990. Hoje, quando os idosos também usam jeans e curtem rock, pois já nasceram na era pop, jovens e velhos estão novamente igualados, exatamente como não queriam os rebeldes de então.

A banalização do sexo (chamada à época de amor livre, que pouco ou nada tinha de amor), propiciada pelo advento da pílula anticoncepcional, permite hoje o fenômeno das periguetes, das mães solo (isto é, mães solteiras, muitas apenas adolescentes) e a objetificação das mulheres. Hoje, a garota que for a uma balada e não aceitar transar logo na mesma noite com o carinha que acabou de conhecer é simplesmente “fresca”. Como se a razão de ser das casas noturnas não fosse dançar, descontrair e tomar uns tragos, mas sim promover encontros sexuais sem compromisso (o que os ingleses chamam de one night stand).

O grande problema é que essa geração “empoderada” teve filhos e netos e os educou segundo os valores em que acreditava. O resultado estamos vendo hoje: jovens adultos mimados e ensimesmados, que não aceitam ser contrariados, que não se adaptam ao mercado de trabalho, que destilam sua rebeldia sem causa nas redes sociais sob a forma de discursos de ódio, que educam mal os seus filhos — ou nem educam, deixam essa tarefa aos professores e ao TikTok —, y otras cositas más.

Passada a empolgação com aquela geração e seus avanços estéticos e comportamentais, empolgação essa que durou algumas décadas, resta fazer um balanço crítico de seu legado neste século XXI de internet, redes sociais, celulares, nova ascensão do fascismo, “guerras quentes” (a Guerra Fria, que tanto temíamos, nunca degenerou para um conflito armado): será que o mundo que eles ajudaram a construir é um mundo realmente melhor? Muitos ex-hippies, hoje na casa dos 70, 80 anos, reconhecem que, em sua ingenuidade de acreditar que poderiam mudar o mundo, acabaram tragados pelo sistema que tanto combatiam, que sua ideologia se transformou em mais um artigo de consumo: camisetas com a estampa do Che produzidas por grandes confecções multinacionais e com mão de obra semiescrava na China ou na Indonésia, bandas de rock multimilionárias andando de limousine e fazendo exigências extravagantes para se apresentar em festivais, o sexo fácil descambando para a paternidade/maternidade irresponsável e para a violência de gênero e o feminicídio…

Eu peguei a “rabeira” desse movimento e por muitos anos fui um entusiasta desse admirável mundo novo criado pelos hippies, pelos Beatles e Rolling Stones, por James Dean, John Travolta, Madonna, Michael Jackson, pelo Maio de 1968, por Fidel Castro, por Jean-Paul Sartre e sua companheira, Simone de Beauvoir, mas confesso que hoje me sinto decepcionado. Se até os anos 50 não se falava em drogas e nos anos 60 droga era coisa de bicho-grilo e quem não usasse era careta, hoje vemos a devastação que as drogas causam na nossa sociedade: crime organizado mais poderoso que o Estado, infiltrado em todos os lugares (presídios, escolas, igrejas), uma geração de jovens perdida, alienada, sem perspectiva de futuro, vivendo um eterno presente como se não houvesse amanhã — e talvez não haja mesmo —, o planeta sendo destruído, e os poderosos de sempre lucrando com tudo isso. Até quando?

Pouco muito?

Uma curiosidade sobre os advérbios de intensidade “muito” e “pouco”. É muito comum utilizarmos a expressão “muito pouco” para nos referirmos a algo cuja quantidade ou intensidade é menor do que a utilização isolada do termo “pouco” expressaria. E faz sentido. O interessante é que, caso utilizássemos da maneira contrária, ou seja, “pouco muito”, denotando quantidade ou intensidade leve ou moderadamente aumentadas, ficaria bizarro e isso nunca aparece na linguagem diária ou em textos. Como explicar esse tratamento tão diverso para situações teoricamente semelhantes? Obrigado.
Luiz Otavio Andrade

Luiz, sua pergunta é muito interessante. O que ocorre é que em português a palavra muito exerce duas funções: pronome indefinido adjetivo e advérbio elativo. Em várias outras línguas há termos distintos para cada uma dessas funções. Por exemplo, em inglês o pronome é much, mas o elativo é very. Observe: “He has much money” (Ele tem muito dinheiro), mas “He is very rich” (Ele é muito rico). O mesmo se dá em francês (beaucoup x très), alemão (viel x sehr) e espanhol (mucho x muy), dentre outras. O pronome adjetivo qualifica ou quantifica o substantivo, enquanto o advérbio elativo intensifica o pronome ou adjetivo.

Quando digo, por exemplo, “muito pouco dinheiro”, muito é elativo do pronome adjetivo pouco, que por sua vez é adjunto adnominal de dinheiro. Só que pouco não pode atuar como elativo — não dizemos, por exemplo, “Ele é pouco rico” —; por isso, a combinação pouco muito não é possível em português. Além disso, pouco muito tem o mesmo significado de pouco: “ele tem pouco dinheiro”, razão pela qual pouco muito é uma expressão desnecessária.

Todo dia era dia de povo originário

O revisionismo de palavras que se faz hoje em dia com base no linguajar politicamente correto, nas pautas identitárias e na política de inclusão social não raro comete equívocos e estigmatiza termos inocentes, tachando-os de uma conotação preconceituosa que eles, na verdade, não têm.

Atualmente, vários historiadores e professores de História vêm se referindo ao Descobrimento do Brasil (ou achamento, como disse Pero Vaz de Caminha em sua famosa carta) como invasão. Para isso, alegam que por aqui já existiam habitantes — os indígenas ou povos originários, termo que preferem ao mais usual índios — constituídos em nações, as quais foram invadidas pelos portugueses a partir de 1500.

Assim, quero em primeiro lugar analisar a ideologia por trás das palavras achamento, descobrimento e invasão. Quanto a achamento, palavra que não se usa mais há séculos, é o mesmo que descobrimento e pressupõe o ponto de vista do europeu que encontra uma terra nova, desconhecida para ele. Nesse sentido se fala também no descobrimento da Austrália, no descobrimento da Antártida, e assim por diante. É claro que, do ponto de vista dos indígenas brasileiros ou australianos, o que houve foi uma invasão. Mas a questão é: da perspectiva da maioria dos brasileiros atuais, que não são nem indígenas nem portugueses (muitos são, por sinal, mestiços de ambos), a chegada dos europeus às Américas não foi nem um descobrimento nem uma invasão. No entanto, como o Brasil é um país eminentemente ocidental, de cultura predominantemente europeia, apesar das valiosas contribuições culturais de ameríndios, africanos, árabes, judeus e japoneses, tendemos a falar no Descobrimento do Brasil, assumindo assim o ponto de vista europeu — e a meu ver não há nada de errado nisso. Quem prefere o termo invasão tem legítimo direito a escolher tal denominação, mas, a meu ver, esse revisionismo terminológico tem uma forte carga ideológica de movimentos identitários, que infelizmente, na maioria das vezes, pecam pelo extremismo. O ser humano chegou à Lua em 1969; na época falava-se em “conquista da Lua”, e conquista pode ser entendido tanto como uma conquista da ciência (portanto, um avanço científico) quanto uma conquista política, imperialista dos americanos, que tomaram para si um novo território. Deveríamos então falar da “invasão da Lua pelos terráqueos”? Se os selenitas existissem, talvez eles vissem a chegada de Neil Armstrong como uma invasão, assim como os pataxós teriam o direito de ver a chegada de Cabral (parece que não viram assim, pois foram cordiais com os novos visitantes).

Outra pergunta: os vikings que chegaram à América do Norte no século IX e os fenícios que supostamente aqui estiveram ainda na Antiguidade também devem ser tratados como invasores? Há registros de que os primeiros se estabeleceram no Canadá por quase um século e interagiram com os povos locais, inclusive levando objetos da cultura indígena para a Escandinávia. Sobre os fenícios, alguns arqueólogos afirmam ter encontrado vestígios de uma estadia duradoura deles por aqui.

Quanto ao termo indígenas, atualmente recomendado no lugar de índios, cito aqui um trecho da matéria de Gilvana Giombelli que saiu hoje no portal G1:

A data era chamada de “dia do índio”. Porém, a Lei 14.402, de julho de 2022, mudou a nomenclatura [para Dia dos Povos Indígenas]. Defensores das causas indígenas argumentam que a mudança foi de um termo genérico para uma expressão que considera a diversidade dos povos indígenas que vivem no Brasil.
Para Márcio Kókoj Werá Popyguá, líder espiritual da Terra Indígena Mangueirinha, no Paraná, a mudança reflete numa nova visão sobre os indígenas e retira o tom pejorativo da palavra “índio”, atribuída aos povos originários por quem, segundo ele, invadiu terras latino-americanas desde o século XV.

Agora, as minhas considerações. Se índio é um termo genérico, ao passo que indígena contempla a diversidade dos povos que aqui habitavam antes da chegada dos europeus, então o termo negro em relação aos inúmeros povos e etnias africanas subsaarianas também é genérico e deveria ser mudado, não? E o termo branco em relação aos europeus e habitantes do Oriente Médio? Também seria genérico e colocaria no mesmo balaio populações tão diferentes como portugueses, suecos, russos, árabes e persas?

Quanto a índio ser termo pejorativo, tenho sérias dúvidas. Um amigo meu, o Prof. Fernando Pestana, fez uma estatística do número de vezes que a palavra índio é empregada em textos escritos e constatou que a esmagadora maioria a utiliza de forma neutra, como mera denominação dos povos originários da América, e não negativa. Fala-se sobre a raça índia como se fala em raça branca, negra ou amarela: como uma classificação fenotípica e não genotípica desses povos, que corresponde também a uma classificação étnico-cultural. Nesse sentido, índios é simplesmente a designação de pessoas cujo fenótipo, isto é, aparência física, corresponde ao dos povos originários das Américas, assim como brancos corresponde ao fenótipo de europeus e parte dos asiáticos, amarelo corresponde ao dos nativos do Extremo Oriente, e assim por diante.

Estou falando aqui em fenótipo, pois genotipicamente, ou seja, em termos genéticos, não há raças humanas, apenas a espécie humana, o que não impede que reconheçamos diferentes grupos humanos, distintos entre si tanto por sua cultura quanto por sua aparência.

Como sustento no vídeo O que é ser preto, negro, pardo ou afrodescendente no Brasil?, do meu canal do YouTube Planeta Língua, as palavras que melhor designam a etnia dos habitantes pré-colombianos da América são justamente índio e ameríndio, pois indígena é que é genérico, significando apenas “nativo da terra”, do latim indi-, “dentro”, e -gena, “nascido”, portanto “nascido dentro (da terra)”. Como mostro nesse vídeo, os europeus são tão indígenas na Europa como os africanos são indígenas na África (notem que, mais acima, falei em “indígenas brasileiros e australianos”, isto é, os chamados aborígines australianos também são indígenas, assim como os índios brasileiros também são aborígines).

Não me oponho a que se busquem termos mais adequados para expressar certas realidades, e a língua evolui exatamente por causa disso, mas tenho certa reserva a mudanças impostas de cima para baixo, por reivindicação de movimentos políticos, assim como percebo nessas propostas de alteração um certo rancor, uma pitada de vingança contra aqueles que são vistos como “os inimigos”. Só que os inimigos, no caso, já morreram há muitos séculos, e quem acaba pagando a conta são seus descendentes, que nada têm a ver com isso.

Ortografia é lei?

Toda lei estabelece deveres e proibições, bem como sanções a quem a transgride. A ortografia oficial da língua portuguesa é uma lei, votada pelo Congresso e sancionada pelo Executivo, mas que não prevê punições ao seu descumprimento. Por que obedecer a ela então?

Se um comerciante afixar um cartaz com erros ortográficos na fachada de sua loja (existem muitos casos assim, alguns até hilários), estará ele sujeito a multa? (Só para lembrar: uma lei que previa multas para placas e cartazes com erros de português, inclusive de gramática, entrou em vigor em São Paulo há alguns anos, mas nunca “pegou”, provavelmente por falta de fiscais qualificados.)

Se um escrivão de polícia transcrever com erros de grafia o depoimento de uma testemunha, pode o advogado da outra parte pedir a anulação desse depoimento? Se um jornal, livro ou revista sair com erro ortográfico — o que não é incomum —, pode o leitor exigir o seu dinheiro de volta e mesmo acionar o Procon?

Evidentemente, a resposta a todas essas perguntas é não. Então que lei é essa que não precisa ser cumprida, exceto por medo de uma sanção social (ser tachado de ignorante)? A rigor, a única situação em que um erro ortográfico implica punição juridicamente inquestionável são os concursos públicos. Parece então que a grafia “correta” das palavras é muito mais uma questão de hábito do que de legislação. Tanto que muitas línguas sequer têm uma ortografia oficial, o que há são hábitos de escrita arraigados, que todos seguem apenas para facilitar a comunicação. O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, implantado no Brasil em 2009, que tanta celeuma levantou, sobretudo em Portugal, procura unificar por força de lei a grafia do português quando o inglês, idioma bem mais influente e difundido do que o nosso, tem duas grafias tradicionais (a britânica e a norte-americana) e nenhuma oficial. Isso parece coisa da nossa cultura legiferante.

Os direitos sagrados dos trabalhadores

Vocês lembram da presidAntA Dilma Rousseff, a “mulher sapiens”, inventora do dilmês, língua na qual é possível estocar vento, dobrar uma meta sem saber qual é, aquela em que o Sol é inútil porque brilha durante o dia quando tudo está claro?

Pois é, num certo pronunciamento no Dia Internacional da Mulher, abafado na ocasião por um dos muitos panelaços, a mulher que saudou a mandioca comprometeu-se a não tocar nos “direitos sagrados dos trabalhadores”, ao mesmo tempo em que defendeu mudanças nas regras de acesso a benefícios trabalhistas. Trocando em miúdos, Dilma tentou explicar como pretendia tocar naquilo que ela própria considerava intocável.

Sim, intocável! Pois é exatamente este o significado da palavra sagrado. Segundo o dicionário Michaelis, “diz-se de uma coisa em que não se deve mexer ou tocar”. E tanto esse dicionário quanto o Houaiss definem sagrado como algo “que não se deve infringir, inviolável”.

Sagrado é o particípio passado do verbo sagrar, do latim sacrare, derivado de sacer, sacra, sacrum, “que não pode ser tocado, sem ser manchado ou sem manchar” (Dicionário Latino-Português, de Francisco Torrinha). Esse adjetivo remonta à raiz indo-europeia *sak‑, “santificar”, que, além de sacer, deu em latim sancire, “sancionar, santificar”, sanctus, “santo”, sacerdos, “sacerdote, aquele que torna sacro”, sacrificare, “sacrificar, tornar sacro, oferecer aos deuses”, e muitas outras palavras.

Na teogonia indo-europeia, essa raiz sempre caminhou junto com outra, *n̥-tag‑, “não tocado”, que nos legou íntegro, inteiro, intacto. Portanto, o que é sagrado, ou santo, deve permanecer íntegro, inteiro, e por isso não pode ser tocado. Diversas religiões, aliás, consideram o contato do corpo humano — especialmente das mãos — com objetos sagrados uma forma de conspurcação.

Nesse sentido, mexer nos direitos “sagrados” dos trabalhadores é uma contradição lógica e etimológica. Talvez apenas mais uma das tantas contradições daquele tão contraditório governo.

A nação que roda sem sair do lugar

Caro Aldo, recentemente, o jornalista David Ribeiro disse em seu blog que “o Brasil não consegue sair de seu estado de colônia nem mesmo etimologicamente, pois, ao longo da história, tem sempre rodado sem sair do lugar”. O que ele quis dizer com isso? Por que o Brasil não sai do estado de colônia nem mesmo etimologicamente? Enfim, o que a etimologia tem a ver com isso?
Obrigado.
Emerson Felipe Lascuola

O colunista citado por Emerson utilizou uma fina imagem para representar a estagnação histórica do nosso país que, no entanto, exige para ser plenamente compreendida um conhecimento mais aprofundado de etimologia. É que a palavra colônia, assim como “colono” e “cultura”, provém do verbo latino colere, “cultivar, cuidar, tratar, preparar, habitar (especialmente a terra)”. Ou seja, colônia é a terra entregue ao colono para ser cultivada. E o colono é aquele que cultiva, isto é, o lavrador. Nos tempos coloniais, as terras brasileiras eram entregues pela coroa portuguesa a nobres que nela vinham morar e instalar plantações. O sentido básico de “cultivar” do verbo colere se estendeu a toda uma família de palavras designativas de cultivo, inclusive em sentido metafórico: agricultura (cultivo do campo — em latim, ager), piscicultura (criação de peixes), cultura (de soja, de bactérias, do intelecto), etc.

Mas qual a relação etimológica, levantada pelo blogueiro, entre a palavra colônia e nosso eterno rodar sem sair do lugar, que nos impede de ser uma grande nação, embora tenhamos tudo para isso? É que colere, descendente da raiz indo-europeia *kwel, significava originalmente “rodar, revolver”. Portanto, ao rodar sem sair do lugar, o Brasil está fazendo o mesmo movimento que o colono faz ao revolver a terra para cultivá-la.

Essa raiz indo-europeia também deu o grego kyklos, “roda, círculo”, que passou via latim ao português ciclo; boukolos, “criador de bois”, que nos deu bucólico; e polos (do indo-europeu *kwolos), “eixo” (em torno do qual a roda gira, donde, por metáfora, temos os polos da Terra). De *kwel também vieram o sânscrito chacra (cada um dos círculos energéticos do nosso corpo), o inglês wheel, “roda”, e o latim collum, “pescoço”, do qual derivaram colo, colete, colar e colarinho.

E por falar em coluna, esta palavra, embora pareça também pertencer à família de colere, tem outra origem: o verbo latino *cellere, “elevar-se”, de que também procedem excelso, excelência e colina.